WORKSHOP PENSARMONTADO II
Herdade do Freixo do Meio
31 de Maio de 2009
PARTE 1 – PENSAR MONTADO
Tivemos o prazer de visitar a Herdade no dia 31 de Maio, por convite de Ana Luísa Janeira.
Foi uma agradável experiência pois estivemos no campo, com bom tempo e podemos ouvir falar de realidades algo afastadas do nosso quotidiano de citadinos. O tema desta 2ª sessão era Montado e Permacultura.
As notas que fui tomando ao longo da sessão não se destinavam à elaboração de uma acta, nem mesmo de um resumo do nosso dia. Apenas foram palavras, expressões e impressões.
Assim, este nosso “apanhado” não será completo, nem o pretende ser. Apenas servirá para deixar alguma água na boca àqueles que não participaram e promover o continuar do debate entre aqueles que lá estiveram.
MONTADO
Assim, muito naturalmente começamos por ouvir Ana Fonseca explicar o que é o montado – ou la dehesa, como se diz do lado de lá da fronteira…
Visto que o site da Herdade inclui uma explicação pormenorizada do assunto, remeto-vos para o site e deixo-vos entrever o início da explicação …
“O montado é um sistema agro-silvo-pastoril explorado a vários níveis – arbóreo, arbustivo e herbáceo – de acordo com as potencialidades de cada região. O nível arbóreo pode ser constituído por carvalhos como o sobreiro (Quercus suber), a azinheira (Q. rotundifolia) e mais raramente o carvalho negral (Q. pyrenaica) e o carvalho cerquinho (Q. faginea), em povoamentos puros ou mistos com uma densidade variável. O sub-coberto é ocupado por pastagens aproveitadas pelo gado ou é cultivado com culturas arvenses de sequeiro num sistema de rotação. As pastagens naturais podem ser ocupadas por matos, em maior ou menor proporção.
O Homem é parte integrante e fundamental deste ecossistema. Foi através da sua acção arroteadora que foram sendo criados os montados, desde que começou a intervir no meio natural que o rodeava.”
http://www.herdadedofreixodomeio.com/index.asp?flintro=off&lang=&art=10036&menu=7873
Ouvimos depois o Alfredo Cunhal Sendim falar de permacultura.
PERMACULTURA
Apresentou-nos o conceito, a filosofia subjacente, outras ideias que floresceram quase em simultâneo.
A permacultura, enquanto palavra, deriva da compactação das palavras “agricultura” e “permanente”. Sendo o conhecimento tradicional e a tecnologia actual as bases mais indicadas para permitir assentamentos humanos duradoiros.
A ética da permacultura assenta assim na pessoa, na ideia de responsabilidade individual pelo que vai acontecendo no mundo, contrariando a tendência actual de desresponsabilização do homem enquanto agente solitário que nada pode “contra os outros ou contra o mundo”.
Assenta também na observação e na interpretação do que ocorre em lugar da invenção.
Há que perceber os ciclos e padrões presentes na Natureza para encontrar as regras da Permacultura.
Na espiral da permacultura estão presentes a terra e a natureza, a construção, a tecnologia, a educação e cultura, a saúde, a economia e a auto-gestão.
Através desta flor-espiral pode compreender-se que a reforma será preferível à revolução.
Para leigos, a abordagem parece respeitar a ecologia, indo mais longe pois abrange todas as acções do indivíduo, obrigando a um calibrar constante das acções humanas com as adaptações da Natureza. É uma abordagem prudente. pois considera que todos os elementos deverão ser multifuncionais. Esta diversidade de utilizações permitirá maior eficiência, ou seja uma utilização mais eficaz dos recursos.
Visto que uma imagem vale mil palavras, remeto-vos para o site da Herdade para que possam “ver” a permacultura em acção.
http://www.herdadedofreixodomeio.com/index.asp?flintro=off&lang=&art=19216&menu=9703
Seguiu-se um merecido e delicioso almoço, um cozido à portuguesa saboreado à sombra dos plátanos.
A TARDE…
A tarde foi dividida em 3 fases:
– uma apresentação, por Nádia Valente, de uma solução arquitectónica para reaproveitamento do Monte da Maceira, respeitando a filosofia do Monte do Freixo;
– uma troca de impressões acerca da dupla “montado” e “permacultura” sob a batuta de Raquel Sousa
– uma passeio pelo Monte, para ver e perceber algumas das soluções que tinham sido referidas.
Assim, observamos a espiral aromática, o jardim do monte nuclear, as estufas, os reservatórios de água, os captores solares, o frito diesel, a vermicompostagem e as casas de banho secas. Pudemos assim perceber melhor a interacção e o melhor aproveitamento dos recursos daí decorrente.
Um exemplo: Os leitões no Inverno são colocados nas estufas, que têm ainda o resto das plantas que teriam de ser arrancadas. Assim, poupa-se no aquecimento dos leitões e na mão-de-obra necessária à preparação da estufa para a cultura seguinte.
reflectindo…
A minha (de)formação académica e o meu percurso profissional levam-me sempre a olhar para o mundo como um todo com interacções.
Assim, a “permacultura” enquanto tentativa de voltar a um mundo que se perpetue (ou perdure) parece-me pouco “alheia”.
A economia, tal como a ecologia, serão ferramentas úteis neste contexto.
Claro que não se poderá olhar para a economia como contabilidade pura…que levará ao lucro, esquecendo a interacção entre homem, meio e natureza.
Terá de ser visto, na área teórica que se debruça sobre as externalidades. Estas são as tais multifuncionalidades de que falou o Alfredo, mas que apesar de abrangidas pela teoria, são dificilmente contabilizáveis na prática.
O montado como microcosmos da permacultura
O montado pode ser visto como um meio em que as noções de permacultura terão sido aplicadas antes do advento desta…
Integrando a presença do Homem, necessário à manutenção dos vários elementos mas sem se sobrepor aos elementos naturais presentes. (animais, árvores, arbustos…), o montado teve no passado uma sustentação sem um impacto nocivo.
O retomar do montado, num contexto de permacultura, fará todo o sentido, respeitando-se o meio natural, adaptando-o quando necessário, usando tecnologias modernas sem impor uma utilização intensivo ou excessiva de um dado recurso.
A permacultura em acção no montado
O desafio será conseguir continuar a utilizar soluções adequadas à Herdade (energia solar, aproveitamento de águas pluviais) que permitam uma comercialização viável dos produtos aí produzidos e transformados mas sem cair em excessos.
A permacultura em acção
Parece-me redutor apresentar a permacultura enquanto filosofia ou ética de vida começando por um elemento em minha opinião marginal – a casa de banho seca.
Obviamente a casa de banho seca torna-se importante no contexto de uma exploração agrícola no Alentejo, pois permite abarcar as questões da água e dos efluentes. No entanto, impor esta possibilidade ou solução como baluarte de uma filosofia causará maior estranheza ou mesmo rejeição.
PARTE 2
Num registo mais emocional acrescentaria as impressões que tive a visita.
Chegámos pela manhã, de um dia que se adivinhava quente. Na procura de uma sombra para o automóvel, tomámos contacto com a primeira contribuição da lógica de Permacultura que iríamos contactar durante quase todo o dia. Estacionamos por baixo de um alpendre em construção. Imaginando o futuro, a armação de madeira (feita exclusivamente com madeiras extraídas da própria exploração) que abriga os automóveis enquadra as diversas plantações que a irão cobrir e abrigar os automóveis que aí sejam estacionados. Vinhas e trepadeiras de fruto deverão dar uvas e frutos vermelhos.
Toda a manhã e parte da tarde foram passadas na pequena escola que servia o monte e a herdade, onde a maior parte da informação foi passada. Tomamos contacto com os primeiros problemas que iríamos abordar. Como poupar energia com o arrefecimento das habitações, como defendermos a nossa vida dos extremos do clima alentejano.
A verdade é que a manhã passou, e a fome veio cortar a sessão de trabalho. Junto do lago, um convés de madeira, debaixo de 4 grandes plátanos refrescou os presentes durante a refeição, cozinhada em potes de barro sobre fogueira, com morangos biológicos de entrada (havia mais outra fruta, mas esqueço-me qual era, pois os morangos fizeram-me esquece-la, e lembrar-me por que razão tanto gosto daquela fruta, que tão incaracterística nos vem sabendo nos últimos anos). A frescura do vento e da água relaxou-nos, o cozido à portuguesa saciou-nos a fome, e o calor, tornado aconchegante pela sombra e frescura da aragem, suavizou e amoleceu a conversa, num aconchego pós-repasto. AH! Já me esquecia: – a sobremesa foi mais morangos.
A apresentação da restante informação decorreu veloz, após o tempo roubado pela refeição e convívio. A visita à zona construída da herdade seguiu-se em bom ritmo. O entusiasmo por alguns recantos das culturas, das formas e pelo sonho de um lago em equilíbrio, já começado mas ainda em processo de equilíbrio com o restante jardim foi forte. Finda-se um dia de calor, que seguramente deixou o montado já depois de nós, apesar da demora das despedidas, como que não quer ir embora.
Como conclusões, parece-me uma nova visão que enriquece a realidade. Há uma forte vontade de corresponder aos desafios que o nosso planeta nos coloca, fruto da nossa intervenção destemperada. As soluções apresentadas são mais estáveis e equilibradas. Falta, no entanto, equilibrar as expectativas com estudos abrangentes. A inversão da pirâmide de valores, da que rege a sociedade actual para uma mais sustentável precisa ser pensada e preparada. Esta hierarquização irá ditar a importância quais os objectivos que virão a ser considerados prioritários, e a revolução energética que se adivinha virá, sem dúvida, alterar grandemente a visão de como iremos sustentar o nosso nível de vida. As respostas à questão energética dado pelo montado poderá ser importante, mas igualmente importante será a importância na conservação dos solos, utilização da água (considerado o recurso deste século) e diversidade biológica. A aposta na produção de energia eléctrica por via de transformação da radiação solar é claramente uma opção adoptada no mundo, e especialmente no montado.
Iremos nós conseguir um equilíbrio que nos mantenha vivos? Esperemos que sim, ma para isso é preciso agir, e já. Para terminar, a Permacultura assume a necessidade do indivíduo assumir a sua responsabilidade, de forma educada e consequente. Precisamos educar-nos rapidamente. Tendo em conta o tempo que demora fazê-lo a sociedades inteiras, não seria importante começarmos já?
Pedro Pacheco
Economista e Gestor de Empresas.
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